págª mantenida por Lorenzo Peña
Afganistán: Una página de ESPAÑA ROJA

O discurso de Bush sobre os Estados Unidos e o incremento do unilateralismo norteamericano por Isaac Bigio


O discurso do presidente George W. Bush sobre o Estado da União evidencia uma virada significativa na política da principal potência mundial. O ponto principal da nova orientação norte americana consiste em uma batalha global contra o chamado terrorismo, para o qual foi produzido o maior aparato militar das últimas duas décadas e se delineia a possibilidade de novas intervenções diretas em outros países. A resposta enérgica que se realizou logo após o ataque às Torres Gêmeas e ao Pentágono permitiram a Bush obter o maior salto de índice de popularidade de toda a história dos Estados Unidos. Hoje, ele tem 84% de aprovação popular, 35% a mais do que tinha antes do ataque terrorista. Bush foi um dos poucos presidentes que chegou à Casa Branca praticamente com a mesma quantidade de votos que seu oponente. Em seu discurso, trata de aproveitar este momento para delinear uma política de ofensiva global. Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos competiam com outra superpotência, que tinha um território, uma economia e uma sociedade definidas. Washington e Moscou mantinham uma espécie de equilíbrio na ameaça nuclear e no patrocínio de conflitos locais em outras partes do mundo. Hoje em dia, porém, Moscou, Beijing e outras grandes capitais são aliadas de Washington na luta contra Bin Laden. O novo inimigo não é um país, e sim dezenas de milhares de terroristas, sem algum lugar distinto. Receitas diplomáticas e fóruns internacionais mediadores como a ONU não podem ser pleiteados por Bush. A Casa Branca considera que hoje os Estados Unidos tem o direito e o dever de proteger seus cidadãos, mesmo que isso signifique entrar em qualquer local do mundo que ache necessário. Um colega da London School of Economics, professor Chris Brown, faz uma analogia entre o terrorismo e os piratas de séculos atrás, que dava às potências da época o direito de entrar em qualquer território para capturá-los. Bush se mostrou triunfante no Afeganistão, pois acredita que acabou com um governo que protegia terroristas. No entanto, em seu discurso não menciona Bin Laden, nem que o objetivo central da invasão, que era capturá-lo, não foi conseguido. Muitos que hoje estão no novo regime do Afeganistão foram os que inicialmente convidaram Bin Laden para residir no país, e têm um largo histórico de assassinatos em massa, narcotráfico e perseguição de minorias e de mulheres. Os quatro exemplos de grupos terroristas dados por Bush são o Jirad Islâmico e o Hamas da Palestina, o Hisbollah (Hesbolah), também da Palestina, e o Jaish-i-Mohammed de Cashemira. Os três primeiros são considerados por muitos países árabes como legítimos combatentes contra a ocupação de Israel. A Síria acoberta estes grupos, e Tony Blair tentou convencer este país a entrar na coalizão antiterrorista. O grupo de Cashemira foi amparado pelo Paquistão, o principal aliado dos Estados Unidos na Ásia Central. Bush elogiou Musharef, o ditador paquistanês que inicialmente foi o principal incentivador dos talibãs e dos separatistas de Cashemira. Provavelmente, a maior parte dos grupos armados islâmicos do mundo receberam financiamento de magnatas da Arábia Saudita, principal pilar dos Estados Unidos, com as maiores fontes de petróleo do mundo. A Arábia Saudita passa a ter uma ideologia estatal que busca exportar um modelo teocrático de sociedade intolerante com as mulheres, as minorias e as liberdades. O Pentágono é sempre apontado como ter livrado a Arábia Saudita da guerra contra o Iraque, bem como outras reinos petrolíferos. Bush desenhou um triunvirato do mal, composto pela Coréa do Norte, Irã e Iraque. O que chama a atenção é o uso deliberado que o presidente dos Estados Unidos usa deste conceito tão próprio dos fundamentalistas islâmicos. Por outro lado, nenhum destes países possuem riquezas, grandes indústrias ou armamentos nucleares. Também não há entre eles um entendimento. Irã e Iraque se livraram de uma guerra brutal entre si, e ambos rezam para Alá, enquanto que a Coréia do Norte tem um sistema de partido único comunista. Muitos observadores ocidentais estão se surpreendendo pela inclusão da Coréia do Norte e do Irã nesta lista. O primeiro país vem realizando uma política gradual de reaproximação com a Coréia do Sul. Já o Irã, tem um governo eleito constitucionalmente, que vem liberando o regime interno e está procurando se aproximar do Ocidente. Teerã condenou os ataques de 11 de setembro e seus aliados afegãos participaram do novo governo pós-talibã. Ao que parece, os Estados Unidos estariam preparando uma nova investida militar contra o Iraque. Em 1991, Washington se deteve ao liberar o Kuwait e, quando começaram as manifestações chiitas no Sul, e entre os curdos no Norte, o então presidente dos Estados Unidos, o pai de Bush, não quis encorajá-las temendo uma fragmentação do Iraque, alterando assim o balanço de poder no já frágil Oriente Médio. Hoje, a experiência afegã mostra a Bush filho que poderia ser aceitável a imposição de um novo governo de coalizão pró-ocidental que evite a fragmentação estatal. Teóricos militares americanos dizem que o Iraque tem menos problemas geo-climáticos que o Afeganistão, embora esteja muito mais estruturado em termos de armamentos. Além disso, alguns atuais sócios da coalizão antiterrorista não seguiriam Washington em uma nova guerra anti-Hussein. Depois de 11 de setembro, muitos analistas sustentam que a melhor maneira de evitar novos atentados é tratando de solucionar os problemas sociais subjacentes que levam muitos a ataques suicidas: a redução da pobreza extrema e a democratização do Oriente Médio. No entanto, nenhuma medida social foi proposta por Bush, que vê uma solução essencialmente militar. Também não houve menção, por parte dos Estados Unidos, de levar em conta reivindicações de movimentos de defesa do meio ambiente e dos efeitos sociais da globalização. A idéia de se prevenir catástrofes econômicas como a da Argentina foi levada em conta. Em seu discurso, Bush deixou entrever que a saída para a ONU é se restringir até ser uma instituição que aceite os feitos consumados pelos Estados Unidos. Durante a Guerra Fria, toda a intervenção militar americana poderia ser observada dentro da ONU por outra superpotência. Desde 1991, Washington recebeu o aval de Moscou em suas incursões ao Iraque e às Balcãs. No entanto, em relação ao Afeganistão, os Estados Unidos não solicitou autorização da ONU nem acobertou suas ações sob esta ou sob a OTAN. Os Estados Unidos desenvolveram sua capacidade bélica com US$ 48 bilhões. Seus gastos anuais com defesa são de US$ 400 mil, cifra equivalente à soma com segurança gasta pelas seis potências que se seguem aos EUA. No aspecto interno, Bush reconheceu que o maior perigo é a recessão e que a meta deve ser gerar trabalhos. No entanto, o índice de desemprego é de 5% e ameaça expandir-se para 6.5%. A revista "The Econonomist" vê uma contradição entre querer reativar a economia e o emprego enquanto cresce o déficit interno, aumentam os gastos militares e se reduzem os impostos. Uma das primeiras medidas da administração atual foi diminuir os impostos para as grandes empresas, o que significa que, em dez anos, a União deixará de receber US$ 1,3 bilhões de dólares. Em resumo, o objetivo da atual administração nos EUA é priorizar o uso da força para resolver conflitos e o predomínio do unilateralismo americano. No momento, Bush poderá contar com a opinião pública dos americanos, poderá ter um forte respaldo internacional do mundo ocidental, mas a aplicação de uma política dura pode enfraquecer sua aliança com outras potências, produzir desgastes internos e reações populares adversas.

A histórica visita de Bush ao Peru

No próximo dia 23 de março, George W. Bush se tornará o primeiro presidente dos Estados Unidos em exercício a fazer uma visita oficial ao Peru. Chama a atenção o fato de que outros presidentes dos Estados Unidos visitaram os lugares mais recônditos do planeta, mas jamais passaram por um país tão próximo, em plena América do Sul. O Peru tem uma importância histórica. Foi o coração do maior império que já nasceu no hemisfério Sul, e também o centro de toda a colonização espanhola na América Latina.

Este país, de significativos recursos minerais, agrários e pesqueiros, foi, nos anos 70, o maior comprador de armas de Moscou. Nos anos 90, foi uma das nações mais abertas a Tóquio. Bush estará no Peru por apenas um dia, mas este fato tem um significado especial. A Casa Branca quer distanciar-se de sua antiga imagem, quando flertou quase até o fim com as ditaduras de Fujimori e Montesinos. Bush vai se mostrar mais próximo e simpático ao novo regime democrático. O presidente do Peru, Alexandre Toledo, simboliza o sonho americano, no qual um menino engraixate se tranforma no primeiro presidente de origem indígena dos Andes, no país que antes foi el incario.

Educado em Harvard, Toledo tem se mantido fiel às políticas monetárias e diplomáticas dos Estados Unidos. Aceitando Toledo, os EUA procuram não só estabilizar um país castigado por uma super recessão, mas também impôr novamente sua velha presença, enfraquecendo, gradualmente, a significativa influência que o Japão conseguiu conquistar durente a época de Fujimori. Com a cruzada antiterrorista, depois de 11 de setembro, o Peru representa um país que conseguiu derrotar as revoltas internas com uma dura política repressiva. Este modelo é visto com simpatia por setores duros dos Estados Unidos, que querem acabar de uma vez por todas com as organizações colombianas, caracterizadas como terroristas. Washington está fazendo pressão para que o combate às FARC seja mais efetivo. O candidato que prega acabar com a zona de conflito/distensão, Uribe, vem encabeçando as pesquisas.

Diante da possibilidade de uma ofensiva militar contra as FARC a posição do Peru se torna estratégica. A Venezuela tem mostrado certa predisposição para chegar a um acordo com as FARC, já que estas e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, têm discursos semelhantes, bolivaristas. Tanto a Colômbia como o Peru produzem e comercializam muita cocaína. Na selva central peruana ainda há operações do Sendero Luminoso, que está evoluindo e se aproximando das FARC. O congressita peruano Diez Canseco denunciou os intuitos de se criar uma base militar do Pentágono na parte da Amazônia que fica no Peru.

Um dos principais pontos da nova estratégia dos Estados Unidos na região é o Plano Colômbia, e este passa por uma forte ofensiva na retaguarda das FARC, que ficam no Peru. O Peru vem dando mais valor a acordos com outros países da América do Sul. Os Estados Unidos vêem com desconfiança uma Venezuela que mantém bons contatos com Cuba e Iraque. A Argentina passa por uma crise econômica, e o Brasil é relativamente autônomo, embora seu futuro seja incerto, no caso de o Partido dos Trabalhadores, o PT, ganhar a eleição presidencial deste ano.

A Colômbia vive uma séria crise econômica com o aumento da violência das guerrilhas e da violência paramilitar. Neste contexto, Peru e Chile se tornam peças essenciais no jogo de xadrez dos Estados Unidos. Com sua visita, Bush pode querer compensar o Peru pela compra de aviões do Chile, assim como evitar uma corrida armamentista na região. Em meio ao fortalecimento dos movimentos sociais campesinos indianistas no México, Equador e Bolívia, o Perú ainda se mantém à margem, e Toledo pode se mostrar um presidente de origem indígena que começará uma série de reformas que não sejam de base, a fim de evitar radicalismos.

Muita atenção será dispendida em torno da ATPA. Toledo quer convidar a todos os demais presidentes andinos, com a excessão de Chávez, para uma visita a Lima, a fim de que possam chegar a um acordo com Bush que permita a liberação de tarifas alfandegárias nos Estados Unidos em relação a produtos de exportação andinos. Alguns setores, como o da indústria têxtil, têm a ilusão de que, assim, poderiam duplicar a produção e os postos de trabalho.

A visita de Bush conduzirá a uma maior integração do governo peruano à estratégia de combate ao terrorismo e liberalização econômica, que é atualmente promovida pela Casa Branca.